Doce Tentação

~ 05 agosto 2009
GMS foi parar novamente ao hospital, leva como sempre na bagagem, o seu perfil e génio marcantes.

O vício do jogo assumido claramente por GMS, tinha feito deste homem, uma pessoa abastada e de bem com a vida. A definição de “problemas monetários” não constava no seu dicionário. Talvez esta sua realidade, fosse a justificação para a sua constante língua afiada, com a qual dirigia inúmeros impropérios a todos os que comandavam os destinos da nação, àqueles que tomavam decisões com as quais não concordava ou àqueles que nada fizeram, mas nos quais lhe apetecia desancar sem ter necessariamente um motivo para isso. “São todos uma cambada de p*t*s e c*abr**s! Dizia sempre de dedo em riste. Muito bom! (Expressão muito comum naquela altura, agora é mais - A tua vida não te chega?) lol

Uma vez, sobre a mocidade de hoje em dia, e as constantes idas à discoteca...disse-me à frente de quem quisesse ouvir “ Você pode lá entrar e gritar alto e em bom som – Vão todos pró C*****, seus filhos da p***- que ninguém lhe diz nada! A música está tão alta, que até arrepia os ouvidos. Tem algum jeito, aquilo? “ Eu sorri...

A sua imaginação e generosidade também eram alvo dos mais diversos comentários. Além das constantes e indiscriminadas gratificações (nota de 50€), em memória ficam certamente os Bolos Rei, que na altura do natal, entravam em magote pela porta do Serviço. Seis à Vez! Brutal...E se por acaso GMS viesse a descobrir que alguém, por alguma razão não tivesse comido uma fatia de bolo-rei, mandava vir de propósito um especialmente para essa pessoa… Muito bom…

A par da satisfação do Sr. GMS, não sei quem ficava mais contente, se o dono da pastelaria ou o pessoal que comia…

Certo dia, e após um enfadamento de Bolos Rei, GMS confidenciou a todos que a data seu aniversário estava para breve. Para a celebração, encomendara o maior almoço alguma vez visto por estas bandas... “Isto vai ser uma coisa em grande. Vocês merecem! Fartam-se de trabalhar e ninguém reconhece isso!”

Não podemos esconder que todos estávamos ansiosos para ver o que dali iria sair, a animação e boa disposição perante tal cenário causou um estado de espírito agradável e todos involuntariamente começamos a subir a montanha numa tentativa de culminar a chegada ao topo com uma bela recompensa.

O dia de aniversário chegou e GSM morreu nessa manhã.

Coincidência, destino? Não sei… Sei apenas que a história desta particular figura não acaba aqui…

Muitas vezes somos postos à prova na nossa vida profissional. São várias as vezes que por mais que nos custe não podemos perder a compostura, contamos até 10 e aquela resposta que dá vontade de dar, fica só para nós. Além disso ainda há as TENTAÇÕES que estão ali mesmo à nossa frente, e com as quais temos de lidar da maneira exigida a um profissional. Eu explico melhor, quando se regista um óbito numa Unidade de saúde e apesar do ambiente lúgubre, a vida continua e há coisas a fazer. Entre outras, trata-se do cadáver, recolhem-se os haveres e avisa-se a família. É muito usual encontrar na mesa-de-cabeceira dos doentes falecidos, pagelas com santos, fotografias de familiares, objectos de higiene, roupa interior, próteses dentárias, etc., mas tal como escrevi, GMS não era propriamente um indivíduo igual a tantos outros, e mesmo morto, ainda foi capaz de nos surpreender. Na sua mesa-de-cabeceira encontrámos 7950€!

Foi um verdadeiro teste ao nosso profissionalismo, mas asseguro-lhes que nem um cêntimo foi tirado. Foi tudo contado por mais de uma pessoa, devidamente registado e guardado em cofre. Tanto dinheiro, tanto dinheiro, tanto dinheiro à nossa frente, e nós nem um cêntimo tirámos, mesmo quando tanto precisávamos de uma torradeira nova para o Serviço…

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